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6 de out. de 2011

Hering

          A Hering foi fundada em 1880 na cidade catarinense de Blumenau por família de imigrantes alemães. A empresa leva o sobrenome  dos irmãos fundadores Bruno e Hermann Hering. Para o símbolo dos dois peixinhos, não tiveram dúvida. Dois arenques para homenagear/combinar com o sobrenome da família: Hering, que em alemão significa arenque.
          A sede da Cia. Hering em Blumenau ocupa uma área construída de 39.663 metros quadrados.
Considerando todas as unidades da companhia em Santa Catarina, a empresa mantém 8,5 milhões de metros quadrados de áreas verdes preservadas e 750.000 metros quadrados de reserva legal.
          Além de ser um centro empresarial, a sede em Blumenau integra o patrimônio histórico e cultural da região. A estrutura mistura construções tombadas do século XIX, edifícios projetados pelo arquiteto austríaco Hans Broos e jardins elaborados pelo paisagista blumenauense Burle Marx.
          A sede abriga o museu Hering. Inaugurado em 2010, o espaço reúne fotos, máquinas, amostras, documentos e peças publicitárias que contam a história da família Hering e a evolução da indústria têxtil de Santa Catarina. Também abarca materiais interativos que revelam os costumes dos moradores da região a partir de 1880, quando a empresa foi fundada. A partir do início da década de 2010, o local serve também para promoção de eventos e oficinas. O edifício abriga também o Centro de Memória Ingo Hering (neto de um dos fundadores, esteve por 18 anos no comando da empresa), composto por acervos históricos tanto da família Hering quanto da companhia.
         A construção onde está instalado o museu existe desde o século XIX e é tombada pelo patrimônio histórico de Santa Catarina. Foi feita no estilo enxaimel, arquitetura trazida para o Brasil pelos imigrantes europeus. Erguido na década de 1920, o prédio onde funcionaram as oficinas de costura da empresa também foi tombado como patrimônio cultural do estado em 2002.
          O grupo Hering têxtil contrata, em 1972, o engenheiro químico Vilmar de Oliveira Schürmann para criar o projeto de uma nova empresa, a Ceval. Além de tornar-se mais tarde na maior esmagadora brasileira de soja, a Ceval criou a Seara, marca de produtos industrializados de carne.
          Voltando ao setor têxtil, no final de ano de 1992, a Hering reconhece: tem de limpar a roupa suja acumulada por um equívoco de estratégia. A empresa possuía duas divisões, uma de roupas de moda e outra de roupas básicas. No período 1989 a 1992 a divisão de roupas de moda tinha engatado a marcha lenta em seus lançamentos, enquanto a de roupas básicas criava dezessete marcas para fugir da recessão. Resultado: ambas passaram a disputar o mesmo consumidor de classe média e o tropeço ficou visível quando o poder de compra da classe média minguou no primeiro semestre de 1992.
          Em agosto de 1993, o grupo do empresário Ivo Hering, dividido em dois braços bem distintos, um têxtil, a Hering, e outro de alimentos, a Ceval, completa o processo de abertura de capital de suas empresas. Sua holding e a Ceval já tinham ações negociadas nas bolsas de valores. Seriam então lançados papeis da Hering Têxtil.
          Na segunda quinzena de setembro de 1994, vinte mil clientes da Hering Têxtil receberam uma carta do presidente da empresa, Ivo Hering, informando sobre medidas tomadas pela empresa para contornar (e sair dela) a crise. A Hering havia acumulado prejuízo e uma dívida de 150 milhões de dólares nos dois anos anteriores e viu a concorrência corroer sua participação de mercado. Numa avaliação que ganhou corpo em abril de 1994, em busca de maior rentabilidade com produtos mais sofisticados, ganharam espaço as marcas Omino voltada par o público jovem, Mafisa para mulheres mais maduras, PUC, Public Image e Wrangler para os amante do jeans. A marca Hering ficou para as roupas íntimas e camisetas.
          Ivo, que assumira a empresa em 1989, e Abramo Moser, diretor administrativo-financeiro, fizeram a empresa dar um sinal claro de que o esforço de transformação da empresa dos dois arenques era para valer, ao vender em setembro de 1994, por 38,5 milhões de dólares, metade do controle acionário da Hering Nordeste para no Grupo Vicunha. Instalado em 1968 em Paulista, na região metropolitana de Recife, primeiro como fiação e mais tarde também como confecção, a história do empreendimento mostrou-se parte de um equívoco. A Hering acreditou que encontraria no Nordeste algodão abundante e, ainda, um mercado crescente para o consumo de confecções. Não encontrou nem uma coisa nem outra. Com o tempo, a Hering Nordeste, que custou ao grupo investimentos de 150 milhões de dólares na década de 1980, transformou-se num fardo difícil de carregar.
          E a empresa resolveu mudar. Capitaneada pelo então diretor de marketing e um dos herdeiros da companhia, Fábio Hering, a divisão de roupas básicas decidiu retomar sua proposta original. Eliminou suas dezessete marcas e manteve apenas o nome Hering. A empresa pretendia alcançar assim todos os tipos de consumidor, dos mais ricos aos mais pobres. A divisão de moda passou a diversificar bem mais as suas linhas. Passou também a ter uma distribuição ostensiva, aumentando o número de revendedores e assumiu diretamente 70% das vendas.
          Depois de alguns períodos atribulados e como resultado de sua bem sucedida renovação empresarial, a empresa deixou de ser apenas uma confecção para apostar  em seu grande trunfo: o próprio nome Hering.
          Com parte da produção entregue a terceiros e parte garantida por importados, a Hering pôde concentrar as forças na gestão da marca, consumida em todas as faixas etárias e de renda. Uma das maiores e mais tradicionais fabricantes de roupas do Brasil, a Hering passou então, em 1996, a atuar também no setor varejista.
          Em 1997, sai do setor de alimentos. O grupo Hering, que possuía 79,5% do capital votante da companhia e 39,2% do capital total, vende a Ceval, a maior esmagadora brasileira de soja, para o grupo Bunge. A Seara, marca de produtos industrializados de carne criada pela Ceval, foi junto.
          O desenvolvimento de coleções, a gestão da rede de mais de 840 lojas no Brasil - a maioria franqueada e 17 no exterior - e a distribuição de produtos em lojas multimarcas passaram a ser o norte das atividades de Fábio Hering, presidente e acionista principal da companhia e membro da quinta geração da família fundadora. Em julho de 2018, seu filho Thiago, nascido em 1982, assumiu como diretor de marca Hering.
          Os produtos são projetados na área de estilo, localizada no escritório de São Paulo. Em seguida, as ideias são encaminhadas para o setor de engenharia e desenvolvimento, localizado em Blumenau, onde a viabilidade de produção é avaliada e são feitos os protótipos. Na sequência, eles seguem para a confecção. Além da fábrica que fica junto à sede, em Blumenau, a Hering tem outras nove plantas. Três delas também ficam no estado de Santa Catarina, cinco em Goiás e uma no Rio Grande do Norte. Parte do processo de produção é terceirizado.
          A maioria das lojas (653) é da bandeira Hering, mas há também unidades das marcas Hering Kids e PUC, ambas etiquetas infantis e das etiquetas femininas Hering For You e DZARM. A empresa tem cerca de 7.600 funcionários. Aproximadamente 620 trabalham na sede da companhia em Blumenau.
          Depois de anos de calmaria, a temporada 2021 na Hering se tornou um furacão, como se já não bastassem os efeitos da pandemia. A companhia passou a enfrentar uma briga entre herdeiros. Em causa: a posse da Inpasa, um holding familiar com 6,8% do capital da Hering, atualmente avaliada em R$ 3,7 bilhões na B3. Uma ação foi ajuizada no Tribunal de Justiça de Santa Catarina, em Blumenau.

A ação é movida por Pedro Hering Bell, Rafaella Hering Bell e Eduardo Teodoro Hering Bell, os três netos de Eulália Hering, que foi casada com Max Victor Hering, ambos já falecidos. São eles tataranetos do fundador da empresa, Hermann Hering.
          Os réus na ação são a própria companhia Hering, Ivo Hering, presidente do conselho de administração da empresa, e ainda Klaus Hering (tio dos autores) e seu cunhado Antônio Diomário de 
Queiroz. Ivo e Klaus são primos, ambos bisnetos de Hermann Hering.
          Pedro, Rafaella e Eduardo acusam o tio Klaus de ter expropriado a mãe, Eulália, em benefício próprio e também de Ivo Hering e alegam que tudo ocorreu com o conhecimento da companhia. Eles apontam que a holding Inpasa tem dois CNPJs, o que ensejou uma série de operações, segundo os autores, “fraudulentas”. Klaus teria passado as ações da mãe para si próprio em uma série de 
movimentos.
          Dessa forma, querem a anulação dos atos ocorridos no passado. No texto da ação inicial proposta, os advogados Rogério Ives Braghittoni, Paula de Camargo Passos e Yasmin Pastore Abdala afirmam que ainda não conseguem estipular um valor para a causa. Pela participação da Inpasa em Hering, o valor dessa holding seria de R$ 250 milhões.
          Conforme o texto da ação, as operações irregulares de transferência de ações envolveriam desde documentos com assinaturas falsificadas e sem registro em cartório até o uso de uma offshore sob os 
cuidados do escritório Mossak Fonseca, protagonista do escândalo Panamá Papers.
          De acordo com os autores da ação, a avó Eulália era detentora de aproximadamente 10% da Inpasa, o que hoje lhes conferiria valor equivalente a R$ 25 milhões, a preços de mercado da Hering.
          Ivo Hering está prestes a se aposentar e deixar o negócio. É hoje o maior herdeiro vivo da companhia, com cerca de 12% do capital entre ações que ele e seus filhos possuem direta e indiretamente na empresa. No fim deste mês, o bisneto do fundador passa a presidência do conselho para seu sobrinho Fabio Hering, pai de Thiago Hering, que será o novo presidente executivo. Fabio tem uma pequena participação no capital total, da ordem de 0,6%, ou o equivalente a R$ 22 milhões.
          Embora o texto da ação demonstre que a desavença se arrasta há anos, dentro do processo de inventário da avó, somente agora os herdeiros decidiram ir à Justiça, curiosamente justo no momento em que a companhia pode trocar de mãos – após uma frustrada tentativa de acordo privado. A expectativa do mercado é que Arezzo ou outra empresa conseguirão comprar ou se combinar à Hering.
          A passagem de bastão na empresa é vista como ensejo perfeito para que Thiago possa conduzir uma negociação. Algo compreendido como tremenda responsabilidade, dado os 140 anos de história da companhia.
          A força da marca, a maior do varejo têxtil brasileiro, já atraiu diversos fundos renomados do país, que investiram recursos e tentaram auxiliar a gestão a promover um novo ciclo de crescimento ao longo da última década. Porém, sem sucesso. Fabio Hering preferiu sempre uma gestão conservadora. O faturamento da empresa nos últimos dez anos não acompanhou nem mesmo a inflação.
          Junto com a família, com ações dispersas entre vários herdeiros e espólios, três gestoras de recursos conhecidas do mercado são os maiores acionistas: Atmos, Velt e Verde. Herdeiros, de um lado, somam quase 25%, tal e qual os fundos.
          Apesar de não registrar nenhuma aceleração dos negócios, a Hering conseguiu sobreviver à crise do setor têxtil e se reinventar ao migrar para o varejo. A primeira loja piloto foi inaugurada em 1993, no Rio de Janeiro e, no fim daquela década, a estrutura de franquia começou a ganhar corpo. Hoje, é uma companhia sem dívida e com uma sobra de R$ 265 milhões em caixa.
          Em 26 de abril de 2021, o Grupo de Moda Soma S.A. fez um acordo para a aquisição da Cia. Hering, num negócio cujo valor total chega a R$ 5,2 bilhões, o que implica um prêmio de 43% para o valor de mercado da empresa naquele momento. Cerca de 10 dias antes, a Hering recebeu uma proposta não solicitada da Arezzo, enquanto o Soma estava sondando a marca Shoulder. A Arezzo tinha oferecido cerca de R$ 3,3 bilhões. Para Flavio Conde, chefe de análise da Inversa Publicações, o negócio é "muito positivo" para a Hering, que fará parte de um grupo "maior, mais agressivo e com mais dinheiro" e também positivo para o Grupo Soma, "que trará uma marca centenária, super conhecida, mas subaproveitada e com potencial de crescimento". No início de outubro de 2021, os acionistas da Cia Hering aprovaram o cancelamento de registro de companhia aberta, após sua 
incorporação ao Grupo Soma.
(Fonte: revista Exame - 06.01.1993 / 05.07.1995 / Exame Maiores & Melhores - 2012 e 2015 / Exame.com/msn - 19.08.2016 / IstoÉDinheiro - 07.02.2019 / Exame In - 24.04.2021 / ValorInveste - 27.04.2021 / 04.10.2021 - partes)

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