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5 de out. de 2011

Melitta

          Nos idos de 1900, mais precisamente em 1908, com o café se tornando popular na Europa, dona Melitta, então morando na cidade alemã de Dresden, queria uma solução criativa para resolver um problema doméstico: fazer um cafezinho saboroso para agradar o marido reclamão, o senhor (Herr) Hugo Bentz. Ele se queixava que a bebida tinha gosto variado a cada dia.
          Tudo por causa do coador, ou da falta dele. O método de preparo, na época, consistia em deixar os grãos na bebida, o que fazia com que o café ficasse amargo. Zelosa, a esposa teve a ideia de fazer furos no fundo do pote de bronze e acomodava uma folha do caderno do filho no utensílio. Ela então adicionava os grãos do café em cima do papel e colocava água. Foi o nascimento do filtro de café de papel que, industrializado, passou a levar o seu nome.
          Melitta Bentz e o marido patentearam rapidamente a invenção como "um dispositivo de filtro superior equipado com papel de filtro" e registraram uma empresa para produção e venda da invenção, com um escritório em Dresden.
          Depois de testar a invenção rigorosamente e fazer mudanças para sua melhoria, Melitta e Hugo Bentz começaram a visitar lojas que vendiam artigos para casa, lojas de departamento e comércio especializados para oferecer seu sistema de filtros de café. Conforme a invenção foi alcançando popularidade, eles ganharam as medalhas de ouro e prata na Feira Internacional de Higiene em Dresden.
          Em 1914, a empresa se mudou para uma nova sede e investiu em máquinas maiores, além de contratar 15 pessoas. Em 1930 Bentz mudou o formato de filtro para um cone.
          Não foi intencional, mas depois da invenção a moça alemã criou um império em torno do café: a Melitta, uma multinacional centenária que segue familiar, de capital fechado. E olha que é difícil imaginar um pé de café se desenvolver na Alemanha, por causa do clima. A Alemanha hoje importa café verde do Brasil, Vietnã e outros países e o processa, torra, faz marketing e distribui e, entre sua reexportação e o mercado interno, fatura com esse produto tão tropical praticamente a mesma coisa que o Brasil.
          A Alemanha ainda é responsável por quase 50% dos negócios da Melitta e a Europa, por 70%. A divisão de café e preparação de café representa 70% das vendas globais do grupo, que também comercializa produtos de limpeza e filmes para uso doméstico. Produz também máquinas (incluindo as de espresso) e acessórios, assim como itens não relacionados diretamente com o universo cafeteiro, como sacos de papel para aspiradores, toalhas de papel e embalagens para que a comida não perca o frescor ao ser armazenada.
          Melitta Bentz faleceu em 1950 mas, a empresa continuou a crescer ano a ano e desenvolveu uma gama de outros produtos. Também investiu em tostar e empacotar café. Em 1962, a Melitta foi a primeira empresa a oferecer café moído em embalagens seladas a vácuo para o mercado alemão, explica Sarah Krisl, responsável pela comunicação e sustentabilidade da marca Melitta em Minden, Alemanha, aproximadamente 160 quilômetros ao sul de Hamburgo.
          No Brasil, seu desembarque deu-se em 1968 e a empresa trabalha para se tornar a principal divisão do grupo.
          No ano de 1977, o Grupo Melitta adquire a Celupa Celulose e Papel Guaíba, no mercado desde 1944, com fábrica em Guaíba (RS), onde são fabricados os filtros de papel das marcas Melitta, Jovita e Brigitta.
          Em 1991, quando o grupo tinha um faturamento mundial de 1,5 bilhão de dólares nos 100 países em que atuava, no Brasil, a Melitta amargava prejuízo nos últimos 23 anos, ou seja, desde que aportou no país em 1968. Os três irmãos Bentz, porém, mantiveram a calma e decidiram dar uma última chance contratando dois executivos brasileiros, em vez de enviar presidentes da Alemanha. Luiz Zamorano Junior e Kurt Hupperich assumiram a Melitta em dezembro de 1991.
          A primeira medida da dupla foi desfazer-se da principal fonte dos vermelhos nos balanços: a fábrica de cafeteiras que dava prejuízo anual de 1,5 milhão de dólares. As outras  soluções foram as mais simples possíveis: treinamento, marketing, corte no número de gerentes e diretores. Em 1992, o lucro já apareceu. Mas Hupperich tinha mais uma carta na manga: "O segredo é não falar sobre economia brasileira com os alemães".
          Em março de 2017 a Melitta adquire as marcas de café Barão e Forte D+ do Grupo Mogyana, com sede em Piumhi, Minas Gerais. O negócio inclui também equipamentos para produção, torrefação e moagem de café, que irão para a planta da Melitta em Avaré.
          Em outubro de 2017, a companhia adquiriu a estrutura fabril de Varginha, Minas Gerais, numa das principais regiões de produção de café do país. Fez adaptações para receber as linhas de produção e equipamentos, num investimento total da ordem de R$ 40 milhões, que entrou em operação em setembro de 2018.
          Importante movimento feito pela empresa em 2018 foi a entrada no mercado de cápsulas de café compatíveis como o sistema Nespresso, o que aconteceu bem mais tarde que suas concorrentes.
          A Melitta também reforçou a aposta no segmento de cafés gourmet em 2018. A companhia já tem a linha Regiões Brasileiras, de cafés superiores, vendidos no varejo. E criou uma nova loja online para venda de cafés "supergourmet", moídos ou em grãos, e de acessórios para preparo de café. Os cafés de alta qualidade ofertados nesse canal são provenientes de microlotes das mais importantes regiões de produção de arábica no Brasil.
          A Melitta tem unidades fabris na Alemanha, Brasil e Estados Unidos (Flórida) e tem mais de 3.500 funcionários. Tem presença em mais de 100 países. No Brasil, tem unidades em Avaré (SP), Guaíba (RS), onde fabrica filtros e papeis industriais, em Bom Jesus (RS), onde comprou a marca homônima de café e em Varginha (MG).
(Fonte: revista Exame - 12.05.1993 / jornal Gazeta Mercantil - 23.07.2001 - Jornalista: Christiane Martinez / jornal Valor 04.10.2013 / The Daily Meal (Helen Soteriou) - msn - 08.03.2018 / Valor - 15.10.2018 / livro Dos Alpes Austríacos ao Xingu e Serra Catarinense, de Guilherme Krautler - partes)

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