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5 de out. de 2011

Netshoes

          A comunidade armênia dominou, por décadas, o comércio de calçados no centro de São Paulo. Por isso foi natural para Marcio Kumruian, filho de armênios, a decisão de vender sapatos após concluir o curso de economia na faculdade Mackenzie. Seu primeiro emprego havia sido de "faz tudo" na tradicional loja de calçados Clóvis, controlada por armênios, e um de seus tios também ganhava a vida no comércio calçadista (Kumruian costuma dizer que armênios não têm antepassados, mas "antessapatos").
          Foi em 2000 que abriu, em sociedade com o primo Hagop Chabab, sua própria loja, na rua Maria Antônia, ao lado da faculdade. Como era apaixonado por tecnologia (montava e vendia computadores durante o curso), queria dar um nome associado à internet para sua loja. Netshoes foi sugestão de uma tia que mal sabia o que era e-mail. Logo abriu a segunda loja, no shopping Ibirapuera. O salto acabou sendo maior que as pernas dos primos. Os custos aumentaram, as vendas não subiram na mesma proporção e a loja fechou pouco depois de completar seis meses. Os pares de sapatos e tênis acabaram parando no quarto da casa de Kumruian por não caberem no estoque.
          Como volta e meia acontece, o fracasso da primeira tentativa foi fundamental para o sucesso da segunda. Para ajudar a desovar os sapatos encalhados em seu quarto, Kumruian aderiu a um programa do Banco Real (hoje Santander) que incentivava pequenos varejistas a vender pela internet por meio da página do banco. O trabalho dos primos era tirar fotos dos produtos e colocar as imagens no site. Os sapatos eram enviados pelo correio. O sócios começaram então a criar gosto pelo comércio eletrônico.
          Os primos Kumruian e Chabab, o diretor comercial da empresa, investiram cada um 25.000 reais para fundar a Netshoes e passaram a ser donos de metade das ações. No final de 2012, Zuckerberg, do Facebook, sócio do fundo de investimento Iconiq, virou um dos investidores da Netshoes.
          Em fevereiro de 2016, a Netshoes compra a varejista de calçados Shoestock, de São Paulo, com a finalidade de reforçar sua loja Zattini. A Shoestock, fundada em 1986 pelas irmãs Lucilia Delia Fabricio e Marcia Fabricio Cahielo fechou as portas, por problemas financeiros, em setembro de 2015, por decisão das sócias e não por falência ou recuperação judicial. A empresa chegou a vender, em 2011, R$ 100 milhões no ano, com 15 mil itens em exposição, entre calçados, bolsa e acessórios.
          Com uma operação puramente online, a Netshoes opera no negativo há anos. Desde sua oferta pública inicial de ações, em 2017, as ações foram de 14,50 dólares no primeiro dia no mercado acionário pra 2,65 dólares no final de abril de 2019.
          Em 29 de abril de 2019 a varejista Magazine Luiza fechou acordo para aquisição de 100% das ações da Netshoes por 62 milhões de dólares. A compra rebaixou ainda mais o valor por ação, para 2 dólares.
          A Netshoes anunciou também a venda de sua operação na Argentina para o grupo de investimentos argentino BT8 S.A.  A empresa já havia vendido, em agosto de 2018, sua operação no México para o grupo norte-americano Sierra Capital, um fundo privado com investimentos na América Latina.
          Poucos dias depois da oferta do Magazine Luiza, a Centauro entrou na disputa.
          Em 14 de junho de 2019, com reviravoltas comparáveis a final de novela, acabou a disputa entre Magazine Luiza e Centauro pela compra da Netshoes. Quem levou a empresa foi o Magazine, cuja proposta de compra foi aprovada por 90,32% dos acionistas da Netshoes em Assembleia Geral Extraordinária (AGE) realizada nessa data na capital paulista. A Magalu adquirirá a integralidade das ações de emissão da Netshoes pelo preço de US$ 3,70 por ação, totalizando aproximadamente US$ 115 milhões. A operação seria concluída até o dia 19 de junho. O valor é 85% maior que o oferecido inicialmente pela varejista.
(Fonte: revista Exame / jornal Valor online - 23.02.2016 / Exame - 29.04.2019 / IstoÉDinheiro - 14.06.2019 - partes)

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