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30 de out. de 2011

Banco Safra

          No campo financeiro, o passado é importante para definir uma realidade presente e proporcionar uma sólida garantia para o futuro.
          Era o século XIX e a Europa ainda mantinha na memória as campanhas de Napoleão. O mundo conhecia os resultados da Revolução Industrial. Florescia a economia dos países europeus, daqueles em volta do Mediterrâneo e da América do Norte, graças ao impulso das grandes invenções - a máquina a vapor, a eletricidade - e ao movimento de navios, das caravanas e, agora, dos grandes comboios ferroviários, que transportavam e comercializavam produtos agrícolas e mercadorias das mais diversas.
          O financiamento de toda essa intensa movimentação comercial era assegurado por banqueiros que viriam a se tornar lendários, entre os quais aqueles da família Safra, que no Oriente Médio deram origem a uma linhagem de financistas e lançaram ali os fundamentos da moderna atividade bancária, baseados no aprofundamento das informações e no crescente aumento do intercâmbio entre cidades.
          Particularmente intensa era a troca de mercadorias entre os portos e cidades da Europa, como Paris, Nice, Marselha, Madrid, Barcelona, Nápoles, Trieste, Gênova e Veneza com Alexandria, Atenas, Istambul, Beirute, Damasco e Alepo - cidade a noroeste da Síria e um dos maiores centros de comércio. Para ela convergiam comerciantes e mercadorias do Oriente e do Ocidente.
          Em Alepo viviam os Safra, de vocação cosmopolita, que se dedicavam a financiar o comércio, aceitando o câmbio de moedas de diferentes estados, como os “para” do Império Otomano, os “zecchini” de Veneza, os “thaler” de Maria Theresa, outras moedas do Oriente, da Europa e da África, além de metais como prata e, principalmente, ouro.
          Embora as práticas contábeis já estivessem desenvolvidas, Jacob Safra, o patriarca, era conhecido por sua excepcional memória e habilidade em lidar com números, visto que realizava mentalmente o cálculo de conversão de diferentes moedas e cotações, bem como dos custos de financiamentos que concedia aos seus clientes.
          Em meados do século XIX, é fundada em Alepo a Safra Frères & Cie. que, ao nascer, já trazia o renomado nome da família. Em pouco tempo, torna-se famosa e acatada em todo o Oriente Médio, com reputação firmada junto a grandes e criteriosos financistas. A firme expansão da empresa levou a família Safra a abrir filiais em Istambul, Alexandria e Beirute.
          Mais tarde, já na primeira metade do século XX, é fundado em Beirute o Banco Jacob Safra, dirigido pelo patriarca que, assim, deu origem a uma nova geração de banqueiros de sucesso. Depois da Segunda Guerra Mundial, Jacob Safra estende seus negócios à Europa e, em seguida, à América Latina e aos Estados Unidos.
          Seus descendentes conquistaram prestígio por seus conhecimentos, dando continuidade a um duradouro relacionamento com a comunidade de clientes.
          O Banco Safra S.A. é uma importante instituição bancária do Brasil. Respeitado internacionalmente, classifica-se entre os dez maiores bancos privados do país, em termos de ativos. O Safra um banco comercial que presta todos os tipos de serviços e atua em todas as áreas do setor financeiro, atendendo às necessidades de seus clientes. Através de suas principais subsidiárias brasileiras, Banco J.Safra S.A., Safra Leasing S.A. Arrendamento Mercantil, Safra Seguros Gerais S.A., Safra Vida e Previdência S.A., e J.Safra Corretora de Valores e Câmbio Ltda., as atividades do banco vão além das tradicionais operações de empréstimos, estendendo-se para leasing, subscrição de valores mobiliários, administração de fundos de investimento e atividades de corretagem e seguro. As outras atividades do banco incluem financiamentos comerciais, gerenciamento de ativos, operações de tesouraria e emissão de cartões de crédito.
          O Banco Safra (no Brasil) foi fundado em 1967 pelos irmãos Moise, Joseph e Edmond, mantendo a tradição de 200 anos de financistas da família, originária de Alepho (Alepo), na Síria. Edmond deixou a sociedade na década de 1980 para fundar um banco nos Estados Unidos, vendido em 1999 para o HSBC, e acabou morrendo num incêndio criminoso, em Mônaco, no mesmo ano.
          Em 1969, Joseph casou-se com Vicky Sarfaty, com quem teve quatro filhos (Jacob, Esther, Alberto e David) e 14 netos (até sua morte em 2020).
          Moise e Joseph dividiram harmoniosamente o comando do grupo até o início da década de 2000, quando faltou espaço para a terceira geração. Joseph tentou comprar o controle mas Moise resistiu. Os filhos de Joseph montaram o Banco J.Safra, para concorrer diretamente com o Safra.
          A sede do J.Safra foi erguida na avenida Paulista bem em frente à do Safra. Executivos do Safra foram atraídos, e clientes tradicionais, seduzidos. A paz só retornou em 2006, quando, em julho, Joseph, também conhecido como José, comprou os 50% de Moise no Safra no Brasil e subsidiárias nas ilhas Cayman, além de participações nas empresas de serviços financeiros localizadas nos Estados Unidos, em Luxemburgo, na França, Bahamas e Uruguai. Moise Safra faleceu em 15 de junho de 2014, aos 79 anos, em São Paulo.
          Joseph Safra é conhecido no mercado financeiro pela esperteza que costuma demonstrar nos negócios. Já virou folclore uma afirmação que ele teria feito certa vez ao comentar sua filosofia de trabalho: "Eu gosto de negócio que é bom para os dois - para mim e para o Moise (seu irmão e sócio em vários negócios). Em dezembro de 2008, porém, o Safra teria sofrido um revés. O banco "vendia" no Brasil um fundo que aplicava dinheiro dos clientes com o americano Bernard Madoff, acusado de uma fraude de US$ 50 bilhões, numa pirâmide financeira. O banco teria perdido US$ 300 milhões de brasileiros investidos com o fraudador. A descoberta da fraude de Madoff aconteceu num efeito ironicamente positivo da crise financeira: sem ela, talvez esse tipo de fraude não fosse descoberta.
          A nova geração, com os irmãos Alberto e David, filhos do patriarca Joseph que mora na Europa e controla o banco, começam a assumir o banco por volta de 2008 e logo passaram para a posição de comando.
          Em abril de 2016, o banco passa por um momento delicado. Joseph Safra e o ex-diretor João Inácio Puga tornaram-se réus no processo que investiga o suposto pagamento de propinas para obter decisões favoráveis à JS Administração de Recursos, que pertence ao grupo Safra, no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. Em dezembro (2016) a Justiça decide extinguir a ação contra o banqueiro Joseph Safra, controlador do Banco Safra, no âmbito da Operação Zelotes, que investiga suspeita de manipulação de julgamentos no Conselho Administrativo e de Recursos Fiscais (Carf).                Em setembro de 2019, em entrevista, Alberto Safra, nascido em 1980, um dos quatro filhos do banqueiro Joseph Safra, que controla 100% da instituição, diz que acredita que o banco, então com apenas 106 agências, pode se tornar um dos quatro maiores bancos de varejo, um mercado do qual estava totalmente fora. O herdeiro ocupa uma das cadeiras do conselho de administração do Safra. Os avanços tecnológicos levaram o Banco Safra a ter essa nova ambição. A família Safra acredita haver uma oportunidade única para avançar pelo varejo bancário e ocupar um lugar entre os líderes.
          Na sexta-feira, 25 de outubro de 2019, Alberto Safra deixou o Banco Safra para se dedicar a um novo negócio na área financeira. Além de acionista, ele ocupava uma cadeira no conselho de administração e respondia por toda a área de negócios com empresas, o chamado “corporate banking”. Também deixa o Safra o executivo Rossano Maranhão, que presidia a instituição há quase 12 anos. A decisão teria sido tomada depois que fracassaram as tentativas de resolver diferenças de longa data com seu irmão mais novo, David, sobre a condução da instituição. Os dois irmãos não têm cargos executivos, mas, a partir do conselho de administração, dividiam as responsabilidades sobre as duas principais áreas de negócios. Enquanto Alberto cuidava das operações de pessoas jurídicas, David, de 35 anos, respondia pelos negócios de pessoas físicas. Jacob, o mais velho dos irmãos, vive fora do Brasil e cuida da área internacional. Rossano Maranhão acompanharia Alberto, de quem é próximo desde que chegou ao Safra, em 2007, e se juntaria e ele no novo projeto na área financeira.
Os dois irmãos tinham desentendimentos há mais de dez anos sobre diversos aspectos da condução dos negócios. Enquanto Joseph estava presente diariamente, arbitrava essas diferenças entre eles. Mas a situação se acirrou depois de seu afastamento. Os problemas, entretanto, continuaram sendo levados ao pai, gerando desgaste familiar. Para substituir Rossano Maranhão como CEO do banco, foi escolhido o executivo Alberto Corsetti, com 51 anos na instituição e homem de confiança do banqueiro Joseph Safra.
          Em 10 de dezembro de 2020, morre Joseph Safra, aos 82 anos, de causas naturais. Ele nasceu em 1938 no Líbano e imigrou para o Brasil na década de 1960, para dar continuidade aos negócios de seu pai, construindo os alicerces do Banco Safra.
          Em 24 de novembro de 2022, vem a público um acordo que já era especulado pelo mercado e tinha até uma série de nomes hipotéticos envolvidos: o banco Safra anunciou a compra do Conglomerado Financeiro Alfa por R$ 1,03 bilhão. Por ocasião do negócio, o banco Alfa tinha R$ 24,5 bilhões em ativos e uma carteira de crédito de mais de R$ 9 bilhões, sendo boa parte dela formada por grandes companhias. Com isso, o Safra deve ter mais atuação em segmentos onde o Alfa já era bastante forte, como varejo — com crédito consignado e financiamentos —, banco de investimento, gestão de fortunas e atendimento a empresas. O banco Alfa remete à época dos grandes banqueiros do Brasil, como o próprio Joseph Safra — fundador do Grupo J. Safra — e pertencia aos herdeiros de Aloysio de Andrade Faria, morto em 2020. Com quase 100 anos de história, a instituição surgiu como Banco da Lavoura de Minas Gerais em 1925, mas virou Banco Real nos anos 1970. Em 1998, este foi vendido ao ABN Amro. Com isso, o banqueiro Aloysio Faria criou o Conglomerado Financeiro Alfa com a ideia de vender serviços financeiros e de seguros.
          Quando comprou o Alfa, o Safra tinha um patrimônio líquido estimado em R$ 15,5 bilhões, com R$ 300 bilhões sob gestão e R$ 270 bilhões em ativos.
          Em 7 de fevereiro de 2024, o Banco Safra anuncia a aquisição da Guide Investimentos. O valor da transação não foi informado. A plataforma tem cerca de R$ 20 bilhões em custódia. Com o movimento, o banco acelera a presença num segmento que buscava desenvolver do zero com o Safra Invest, valendo-se do modelo de distribuição das assessorias de investimentos, os antigos agentes autônomos, liderado por XP e BTG Pactual. “O Safra reforça sua presença nos segmentos de escritórios de assessoria de investimento, onde a Guide é a quarta maior operação do mercado, enquanto o Safra Invest ocupa a terceira posição”, escreveu o banco em release à imprensa.
(Fonte: site da empresa / revista Época - 23.02.2009 / jornal Valor 16.06.2014 com Folhapress / revista Exame 22.06.2016 / Valor - 05.09.2019 / 28.10.2019 / 29.10.2019 / 10.12.2020 / SeuDinheiro - 24.11.2022 / Valor - 07.02.2024 - partes)

English version

In the financial sector, the past has an unparalleled importance in determining the present and providing solid guarantees for the future.

It was the 19th century and the memory of Napoleon’s military campaigns was still fresh in the minds of Europeans. The world was becoming well aware of the effects of the Industrial Revolution as the economies of Europe, the Mediterranean and North America flourished, all thanks to major inventions - the steam engine and electricity - and the movement of ships, caravans and now railroads that transported and traded agricultural products and the most diverse merchandise.

Financing for this intense commercial movement came from bankers, who would one day become legends. From among them, the Safra family began a lineage of financiers in the Middle East, laying the foundation for modern banking based on improved information quality and the growing demand for trade between cities.

Particularly intense was the exchange of merchandise between the ports and cities of Europe, such as Paris, Nice, Marseille, Madrid, Barcelona, Naples, Trieste, Genoa and Venice with cities like Alexandria, Athens, Istanbul, Beirut, Damascus and Aleppo – a city in northwestern of Syria and one of the major centers of trade. It was there that merchants and goods from the East and West converged.

Aleppo was also home to the Safra family, who with their cosmopolitan vocation financed trade and exchanged currencies from several different countries in Asia, Europe and Africa, including the Ottoman Empire’s “para”, the Venice’s “zecchini” and the Maria Theresa’s “thaler”, as well as bullion such as silver and, mainly, gold.

Despite the development of general accounting policies, Jacob Safra, the patriarch, was known for his exceptional ability to mentally calculate the conversion of several currencies as well as the financing costs for each and every one of his clients.

In the mid 19th century, Safra Frères et Cie. was founded in Aleppo, a bank bearing the name of the renowned family. In no time at all the institution earned fame and prestige throughout the Middle East, building a solid reputation before highly selective financiers. Safra Frères et Cie.’s strong expansion prompted the family to open branches in Istanbul, Alexandria and Beirut.

Later in the first half of the 20th century, Beirut was chosen to be the headquarters of the Jacob Safra Bank, founded by the patriarch of what would become another generation of successful bankers. After World War II, Jacob Safra expanded his business to Europe and later to Latin America and the US.

His offspring likewise gained prominence for their expertise in banking, continuing a long-standing relationship with a community of clients.

Banco Safra S.A. is a important and respected player in the Brazilian and international banking sector, ranking among the country’s ten largest private sector financial institutions in terms of total assets. A full-service commercial bank, Banco Safra S.A. operates in all areas of the financial sector, serving the needs of its clients nationwide.

Through its major Brazilian subsidiaries, Banco Safra de Investimento S.A., Safra Leasing S.A. Arrendamento Mercantil, Safra Seguros Gerais S.A., Safra Vida e Previdência S.A., Safra Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários and Safra Corretora de Valores e Câmbio Ltda., the bank’s activities extend beyond traditional lending operations to leasing, securities underwriting, investment fund management, brokerage, insurance and credit card operations. The bank is also active in trade finance, asset management and treasury operations.

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