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4 de out. de 2011

Sadia

          Attilio Fontana nasceu em Santa Maria, Rio Grande do Sul, em 1900. Segundo contava, até os oito anos, nunca havia usado sapatos. Foi nessa época que começou a fazer negócios, vendendo bolachinhas caseiras na estação de trem da cidade natal. Aos 18 anos, percebeu que, sendo o nono filho de uma família humilde de 12 irmãos, seu futuro seria uma aventura individual. No início da década de 1920, foi para o oeste de Santa Catarina, uma área que passava a ser colonizada. Ali, começou a trabalhar como enfardador de alfafa.
          Por volta de duas décadas e meia depois, Attilio Fontana funda a Sadia, com mais 27 pessoas, em 7 de junho de 1944, a partir da aquisição da S.A. Indústria e Comércio Concórdia. O nome Sadia foi composto a partir das iniciais de "Sociedade Anônima" e das três últimas letras da palavra "Concórdia", mas que combinou perfeitamente para representar um produto que vai à mesa do consumidor. De um moinho vinham os primeiros produtos: farinha e o farelo de trigo. Em 1946, abatia 100 suínos por dia e já em 1947, abre uma distribuidora em São Paulo.
          Em 1952, o desafio de transportar os produtos frescos para SP e RJ desde Concórdia (SC) levou a empresa a arrendar um avião da então Panair do Brasil para levar produtos frescais da fábrica para a capital paulista e Rio, impulsionando as vendas. Pouco depois, a Sadia virou também uma marca de companhia aérea comercial, que mais tarde foi rebatizada de Transbrasil.
          No início da década de 1960, aumenta abates e produção de frangos, que havia começado, em 1956. Em 1968, supera 1 milhão de aves abatidas. A primeira unidade industrial de carnes fora de Concórdia, foi aberta em 1964, a Frigobrás.
          A Sadia abriu seu capital em 1971 e, dois anos depois, inicia a produção e abates de perus. Lança, em 1974, o Peru Temperado Sadia e no ano seguinte passa a exportar frango congelado para o Oriente Médio. Em 1979, compra uma fábrica de esmagamento e entra no negócio da soja.
          Attilio foi presidente da empresa por quarenta anos. A partir de 1984, quando se afastou, houve várias transições. Em 1991, por exemplo, um grupo de herdeiros reuniu-se para reformular o acorde de acionistas. Em 1989, morre seu fundador, Attilio Francisco Xavier Fontana.
          No segmento de margarinas, a Sadia 2entra em 1991, com a marca Qualy, hoje dona de uma grande fatia do mercado. Nos dois anos seguintes, a companhia implanta filiais em Tóquio, Milão e Buenos Aires.
          Em meados de julho de 1993, a Sadia lança a Deline Leve, sua versão light de margarina.
          Em outubro de 1994, a Sadia se une à Refinações de Milho, Brasil (RMB) e, juntas, lançam a margarina Mazola, marca de um tradicional e bem-sucedido óleo de milho fabricado pela Refinações. Mazola passava a impressão de produto saudável, o que era bom para ambos. Na Sadia, cujo assunto foi coordenado pelo economista Walter Fontana Filho, neto do fundador do grupo, Atillio Fontana, houve resistência. Uma das preocupações era com o canibalismo de outras marcas da empresa. Para a RMB, o sistema de distribuição da Sadia era um diferencial de peso.
          Os primos Luiz Fernando Furlan e Walter Fontana Filho, segundo um ex-conselheiro, chegaram a divergir na hora de tomar pelo menos uma decisão crucial. Foi quando, em 1997, em meio a um processo para se desfazer de negócios menos estratégicos, Furlan e Walter apresentaram opiniões diferentes sobre o que fazer com as áreas ligadas ao processamento de soja. Walter queria vendê-las. Furlan era contra. Walter pretendia investir o dinheiro da venda em negócios mais rentáveis, como o de refeições prontas. Sua opinião prevaleceu, e a divisão foi vendida por 120 milhões de dólares para a americana ADM. Com a venda, a Sadia perdeu um faturamento anual de meio bilhão de reais.
          A margem da Sadia sobre as receitas, de 2,71%, não era de todo má para as empresas do ramo, mas não resistia a uma comparação com sua principal concorrente, a Perdigão, que apresentava, no mesmo período, uma margem de 4,32%. Pressionada pelo mercado e pelos sócios da família por melhores resultados, a Sadia demitiu, só em 1998, 2.000 funcionários. A presença familiar era forte: perto de 100 herdeiros detinham o controle.
          Na bolsa de Nova York, a Sadia lança ADRs em 2001.
          Com a criação da BRF Trading Company, com a rival Perdigão (vide origem da marca Perdigão neste blog), em abril de 2001, para exportar carnes congeladas, o falatório sobre uma possível fusão das duas companhias ganhou força.
          Em março de 2004, Walter Fontana Filho, então com 50 anos, interrompeu a busca por um profissional de mercado para substituí-lo no cargo de presidente da empresa, conforme previsto num acordo assinado pelos acionistas em 1999. A vaga estava aberta desde o início de 2003 e o trabalho de prospecção já estava em fase adiantada. Executivos tarimbados, como Manoel Hoarácio Francisco da Silv, presidente do banco Fator, que nos anos 1990 fora conselheiro da Sadia, e Luiz Kaufmann, ex-presidente da Aracruz e da Vésper, foram sondados. Entre os candidatos estava também Carlos Dan Trostli, presidente da subsidiária da americana Reckitt Benckiser, fabricante de produtos de limpeza.
          Segundo interlocutores próximos à família, um dos motivos que fizeram Walter mudar de ideia foi o afastamento de seu primo Luiz Fernando Furlan, que deixou a presidência do conselho para ser ministro do Desenvolvimento, no início de 2003. Ao optar pelo primeiro escalão do governo Lula, Furlan abriu espaço para Walter sentir-se mais confortável no poder, cuja presidência ocupava desde 1993.
          Em 2004, tendo a Sadia uma reserva de caixa de R$ 2,5 bilhões, novas suspeitas sobre fusão com a Perdigão veio novamente a lume.
          Em 2005, retoma o abate de bovinos, em seu frigorífico de Várzea Grande (MT).
          O sinal claro da intenção de compra da rival veio em 2006, quando a Sadia surpreendeu o mercado e fez a primeira oferta pública de mercado do Brasil, a chamada oferta hostil, para adquirir a Perdigão. Depois de recusada a primeira oferta, a empresa chegou a oferecer R$ 3,9 bilhões para adquirir a concorrente, mas foi novamente rechaçada pela Perdigão.
          Depois da perda de R$ 2,6 bilhões em 2008 com derivativos, a Sadia passou a ser objeto de compra. Em março de 2009, a empresa assumiu em fato relevante que estava negociando uma associação com a Perdigão.
          Os primeiros dias de maio de 2009, cruciais para as negociações que levaram à compra da Sadia pela Perdigão, foram especialmente tensos para o executivo Ricardo Knoepfelmacher, representando o fundo de investimento Angra Partners, e Zeca Magalhães, do fundo Tarpon. Eles corriam por fora com uma proposta paralela apresentada às famílias Furlan e Fontana, donas da Sadia. A dupla havia conseguido juntar 2 bilhões de reais de investidores nacionais e estrangeiros para ser injetados nas combalidas finanças da Sadia em troca de participação na empresa. Mas, "logo ficou claro que a negociação de verdade não era conosco", diz Knoepfelmacher, ou Ricardo K, como é mais conhecido.
          Em maio de 2009, foi anunciado o acordo de fusão entre a Sadia e Perdigão. Nasce então a Brasil Foods, mais tarde simplesmente BRF (vide origem da marca BRF neste blog), um gigante do setor alimentício. O contrato foi assinado por Nildemar Secches, da Perdigão, e Luiz Fernando Furlan, neto do fundador, da Sadia. O acordo criou uma empresa de cerca de 120.000 funcionários, mais de 40 fábricas e faturamento líquido de 22 bilhões de reais.
(Fonte: revista Exame - 04.08.1993 / 26.10.1994 / 02.12.1998 / 15.12.1999 / 14.04.2004 / 17.06.2009 / jornal O Estado de S.Paulo - 18.09.2009 - parte)

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