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6 de out. de 2011

GM (General Motors)

          A General Motors foi fundada em 1908 por William Crapo Durant, que já tinha na época a pretensão de unificar a indústria automobilística norte-americana em um grupo empresarial bastante forte. Até mesmo a Ford e a Oldsmobile foram contatadas para fazer parte dessa união, mas não houve interesse na época. A GM logo adquiriu a Buick e a Stewart, seguidas pela Oldsmobile, Oakland (mais tarde renomeada como Pontiac) e Cadillac. Em 1910 o grupo, "General Motors", ou "GM" tinha 30 empresas, incluindo fabricantes de autopeças, como as de velas de ignição AC. Até o início dos anos 1920 foram incorporadas a Hyatt, a Frigidaire (geladeiras), a Chevrolet e a Fischer (carrocerias).
           A Chevrolet teve história mais marcante na formação da GM. Já nos primeiros anos Durant contava com a reputação de Luis Chevrolet, um engenheiro mecânico famoso por suas habilidades de pilotagem, contratado então para corridas promocionais de pilotagem. Em 1910, Durant foi forçado a sair da empresa que ele fundou, mas não seria dissuadido de continuar  na indústria automobilística em expansão. Ele se reagrupou com outros parceiros, inclusive Chevrolet, para desenvolver um carro novo. Durant acreditava que a reputação de Chevrolet como piloto ajudaria a vender carros, por isso a empresa levou o seu nome.
           A Chevrolet foi fundada em 1911 e seu primeiro modelo teve bastante sucesso apesar do preço relativamente alto. Durant também estava produzindo um carro menor, mais acessível, chamado Little, de William H. Little. A renomada linha Chevrolet teve sucesso imediato, graças a um preço orientado por valores e um motor de quatro cilindros que provou ser muito durável.
           Apesar do sucesso inicial da empresa, Durant e Chevrolet divergiam sobre a filosofia de produtos da empresa. O abismo entre eles resultou em Durant comprar a participação de Louis Chevrolet na empresa em 1915. O sucesso permitiu a Durant comprar uma participação majoritária na General Motors em 1916. Em 1917, ele estava de volta no comando da GM com a Chevrolet como uma divisão. Durant deixou a General Motors em 1920.
           Sob a liderança de Alfred P. Sloan, engenheiro formado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts que dirigiu a empresa na década de 1920, conduzindo-a a seus anos de ouro, a GM foi uma das primeiras empresas a perceber que os EUA são um país composto de grupos diversos de consumidores, com diferentes gostos e recursos financeiros. A ideia era usar as marcas para oferecer "um carro para cada bolso e para cada finalidade", como disse Sloan. A Chevrolet fabricava carros acessíveis. Pontiac e Oldsmobile eram progressivamente de mais alto padrão. Buick era uma marca de primeira classe, e o Cadillac o auge do luxo. 
           Mesmo com as instabilidades econômicas, a GM já montava carros fora dos Estados Unidos em diversos países, como o Brasil, a partir de 1925. A GMB (General Motors do Brasil) iniciou suas atividades em São Paulo, no bairro do Ipiranga. A produção na primeira fábrica era de 25 carros por dia. Os automóveis vinham dos Estados Unidos desmontados dentro de caixotes. Em apenas dois anos uma fábrica localizada em São Caetano do Sul começou a ser erguida. No final de 1928 a linha de montagem começou a funcionar. Em 1932 surgiu o primeiro ônibus com carroceria nacional. A estrutura da GMB foi se consolidando por meio da assistência técnica consistente e da expansão de outros negócios, como os produtos Frigidaire e a fábrica de baterias ETNA, que passou a usar o nome Delco alguns anos depois.
           Na matriz, Paul Garret pediu, em 1943, a um jovem austríaco, professor e escritor, que estudasse sua empresa. Assim começou a carreira de Peter Drucker, o mais prestigiado pensador mundial na área de gestão.
           Voltando ao Brasil, nos anos 1950, outra fábrica foi construída em São José dos Campos. O caminhão Chevrolet surgiu em 1957. A famosa Veraneio foi lançada em outubro de 1964. O Opala foi lançado em novembro de 1968 e o Chevette, em 1973. O Caravan (versão perua do Opala), derivado do station wagon, Caravan, da Opel, filial alemã da GM, foi lançado somente em 1974. Seu projeto ficou um certo tempo engavetado porque a atenção estava voltada ao Chevette. O Monza (que herdou o nome da versão esportiva do polêmico Chevrolet Corvair, carro de motor traseiro do início dos anos 1960) foi lançado em 1982. Em 1989 surgiu o Kadett, nome usado pela primeira vez em 1936 pela Opel. O Opala, assim como o Caravan, foi aposentado em 1992 com um milhão de unidades produzidas, sendo substituído pelo luxuoso Omega.
          Na categoria off road, nos anos 1980 foi lançada a Chevrolet D20, que rivalizou com as picapes da Ford, fazendo muito sucesso; na década seguinte foi substituída pela Silverado, que nunca se consagrou como a antecessora. 
          O Omega, um carro de classe mundial, foi lançado no Brasil em 1992 durante a gestão do executivo americano Richard (Rick) Wagoner. Num ano de bom desempenho no Brasil, o presidente da subsidiária brasileira da GM foi promovido à vice-presidência de finanças da matriz, em Detroit, no rastro do pontapé no CEO Robert Stempel. Recambiado aos Estados Unidos, o epicentro de drama da GM, Wagoner foi convocado para se sentar ao lado de Jack Smith (John F. Smith Jr), o novo presidente mundial da GM, reflexo dos bons resultados colhidos por ele no Brasil. Jack começara a chacoalhar o gigante adormecido de Detroit desde 1992, na esperança de reanimá-lo. Ele herdou algo parecido com o caos, depois de administrações ruinosas, como a de Roger Smith (nenhum parentesco), presidente de 1981 a 1990. Nesse perído, a burocracia reinou soberana e o resultado é que a GM conquistou, na companhia de outras estrelas cadentes como a Sears e a IBM, fama de dinossauro. Um vez perguntaram a Roger |Smith o que dera errado em sua gestão. Resposta: "Não sei. É uma coisa misteriosa."
          A má notícia para Rick Wagoner: na sua promoção, passou a ser responsável pelas operações na América do Norte. Ao mesmo tempo que manejaria 60% das receitas mundiais da GM, calculadas em 130 bilhões de dólares, Rick teria a incumbência de mexer no corpo, na alma e sobretudo nos resultados no pedaço mais poderoso, sim, mas também mais atrasado e mais complicado da montadora. Em junho de 2000 Wagoner foi nomeado CEO da GM.
          Em meados de 1999, estando os bons ventos soprando na economia dos Estados Unidos, os consumidores americanos de uma maneira geral só tinham uma preocupação: consumir. Se era moleza para as montadoras, que não precisavam se esforçar muito para vender, a GM tinha sim um problema: maior fabricante de automóveis do mundo, a GM simplesmente não conseguia produzir para satisfazer a procura. "O mercado está crescendo tão rápido que é impossível produzirmos mais veículos neste momento", disse Jack Smith, chairman da GM. Tempos difíceis, porém, viriam na década seguinte.
          A década de 2000 foi particularmente cruel para a GM. A empresa já vinha acumulando prejuízos antes  do ápice da crise em 2008 e teve que adotar medidas para diminuir gastos e sobreviver em meio à pior crise de sua história. E, em pleno período de corte de gastos, a empresa passou por uma saia-justa. Rick (Richard) Wagoner, o CEO, aterrissa com seu jatinho em Washington para pedir um empréstimo bilionário ao governo americano. Ao fazer isso, foi duramente criticado pela imprensa e pelos parlamentares que, num primeiro momento, rejeitaram a aprovação do pacote das montadoras. "Há uma deliciosa ironia em ver jatos de luxo chegando a Washington e os passageiros desembarcando com pires vazios nas mão", disse o deputado Gary Ackerman na época. A GM logo anunciou a venda de dois de seus aviões. Wagoner renunciou ao cargo de presidente e CEO da General Motors em 29 de março de 2009, a pedido da Casa Branca.
     Prejuízos acumulados chegaram próximo de US$ 90 bilhões. Em 1 de junho de 2009, a GM entrou em concordata, capitaneada pelo governo americano, que passou a deter mais de metade do capital. Nas palavras do presidente Obama, "participação inevitável e temporária". E foi temporária mesmo: o governo americano vende o último lote de ações que tinha da General Motors em dezembro de 2013 e finaliza o processo de recuperação da empresa.
           O enxugamento de marcas se fez necessário. Em 2004 a GM havia extinto a marca Oldsmobile. Em 2010 foi a vez da morte do Pontiac (vide origem da marca "Pontiac" neste blog). Não foi suficiente. Por isso outras divisões famosas também poderiam ser sacrificadas. E um quarteto de marcas seriam preservadas: Chevrolet, GMC, Buick e Cadillac. Mesmo tendo tido resultado satisfatório com os esforços para sair da crise, a GM já foi obrigada a se desfazer de uma parte importante de sua história.
           Em 2014, a GM vive mais um período dramático. Ao longo de meses, mais de 40 clientes morreram e mais de 50 se acidentaram devido a um problema na ignição dos carros da marca, que paravam repentinamente na estrada. Em agosto daquele ano, a montadora convocou o maior recall da (sua) história - 2,5 milhões de veículos precisavam de reparo.
(Fonte: revista Exame - 23.12.1992 / 20.07.1994 / 25.08.1999 / 15.12.1999 / jornal Gazeta Mercantil - 10.10.2001 Ricardo Bock / revista Época - 04.05.2009 / Wikipédia / revista IstoÉDinheiro - 21.01.2009 / jornal O Estado de S.Paulo - 02.06.2009 - partes)

Um comentário:

Anônimo disse...

Trabalho exaustivo e completo dessa marca. Nunca imaginei que o meu saudoso CARAVAN tivesse participado dessa história de maneira tão rápida e nostálgica... Bom trabalho, excelente pesquisa... E aquela introdução?