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26 de out. de 2011

Bohemia

          Em junho de 1844, a província do Rio de Janeiro contrata com o vice-cônsul do Brasil em Dunquerque, a vinda de 600 casais de trabalhadores e de artífices das mais variadas profissões, destinadas às obras públicas fluminenses. Durante o ano de 1845 foram relacionadas 13 embarcações trazendo 2.338 imigrantes para a província do Rio de Janeiro.
          Junto com esses colonos, chegou a família de Johann Henrich Krämer (Henrique Kremer) acompanhado de cinco filhos e da esposa Anna Margaretha Helmes, com quem casou nove anos antes. Kremer era alemão, proprietário de fábrica de cerveja, nascido em 12 de agosto de 1811 em Hilchenbach-Grund, Siegerland. (Hilchenbach e as aldeias em torno eram uma parte do antigo Condado de Nassau. Durante as guerras napoleônicas em 1807 tornou-se parte do Reino de Westphália. Em 1815, após o Congresso de Viena, Hilchenbach e outras aldeias de Siegerland tornaram-se parte da Prússia, província da Westphália)
          Em 1853, ano da inauguração da Cervejaria Bohemia, a cidade de Petrópolis ainda estava em construção. Fundada por Dom Pedro II (1825-1891) na Serra Fluminense, onde a família imperial tinha uma fazenda, a estância era então um local remoto. Mas, por lá, já havia se formado uma grande comunidade alemã que servia de mão de obra para a realização do plano urbanístico do militar e engenheiro alemão Júlio Frederico Koeler, contratado por Dom Pedro.
          Para atender à demanda dessa comunidade por boa cerveja, apesar de todas as dificuldades de transporte e comunicação, o imigrante alemão Henrique Leiden construiu por ali uma cervejaria bastante moderna e começou a produzir a Pilsen, novidade criada em 1842 na Boêmia (atual República Tcheca) que conquistara o mercado europeu pela leveza e clareza. Em homenagem à terra natal da Pilsen, a fábrica recebeu o nome de Cervejaria Bohemia.
          Em 1858, finalizando uma negociação que se arrastava desde 1854, Henrique Kremer comprava a filial da Imperial Fábrica de Cerveja Nacional de Henrique Leiden, situada no Quarteirão Nassau, na Rua Princeza Dona Leopoldina, conhecida pela população como rua dos Artistas (depois Rua 7 de Abril e hoje Rua Alfredo Pachá).
          Para angariar fundos para o negócio, Henrique Kremer vendeu à fazenda provincial, a propriedade que possuía no Quarteirão Westphália, que a transformou no Matadouro Municipal de Petrópolis. A cervejaria passou a se chamar Imperial Fábrica de Cerveja Nacional de Henrique Kremer. Essa fábrica de cerveja aparece no Almanak Laemmert, pela primeira vez em 1854 (dados referentes ao ano anterior).
          Depois de assumir a cervejaria, Henrique Kremer foi responsável por expandir a fábrica. Mais tarde, seu neto assume o negócio e moderniza todo o processo da fábrica, que já havia adquirido grande reconhecimento.
          Logo, os veranistas cariocas que frequentavam Petrópolis também caíram de amores pela Pilsen e passaram a comprar a cerveja e levar para o Rio de Janeiro. Pouco depois, surgiram mais algumas cervejarias na cidade, mas só a Cervejaria Bohemia sobreviveu aos anos. Ela teria instalações e equipamentos mais modernos do que as outras.
          A fábrica da serra fluminense mudou de nome e de dono (em 1960, a Cia. Antarctica Paulista comprou a empresa) e teve suas instalações ampliadas algumas vezes ao longo da história até que, em 1998, foi fechada e a produção transferida para o interior de São Paulo. Nessa altura, a cervejaria produzia apenas a Pilsen, estilo que dominou o mercado brasileiro durante décadas. Nos anos 2000, porém, começaram as inovações. Em 2002, foi lançada a Bohemia Escura, uma dark lager feita com maltes importados de Munique, na Alemanha. Em 2009, foi relançada, em edição limitada, a Bohemia Oaken, cerveja maturada com carvalho. Nessa época podia-se encontrar a Bohemia Confraria em botecos da Rua Augusta em São Paulo. Em 2012, a clássica fábrica de Petrópolis foi reaberta para a produção exclusiva de cervejas especiais, como os mais recentes lançamentos: a Bohemia 14-Weiss, a Bohemia 838 Pale Ale (em homenagem à cervejaria, que nasceu a 838 metros acima do nível do mar), a Bohemia Aura Lager e a Bohemia Magna Pils.
          As antigas instalações foram totalmente reformadas e receberam equipamentos de última geração para produzir cervejas especiais. Mais do que uma fábrica de cerveja, no entanto, a Cervejaria Bohemia em Petrópolis é um centro de cultura cervejeira aberto ao público. Além das instalações industriais, o complexo conta com um museu, um restaurante, um bar e um empório onde se pode comprar, além de cervejas, vários produtos gourmets, como a mostarda feita de Pale Ale, e acessórios, como taças e baldes de gelo.
          Em um tour interativo, o visitante aprenderá sobre a história da cerveja e como se entrelaça com a história do Brasil, os métodos de fabricação e os vários estilos de cerveja.
(Fonte: jornal O Estado de São Paulo - caderno Paladar - 21 a 31.08.2016 / cervisiafilia - partes)

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